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26 fevereiro 24 Nacional

O Pavilhão de Portugal em Osaka 2025

A Ordem dos Arquitectos não está surpreendida com o facto de PORTUGAL, pela primeira vez, apresentar um Pavilhão Nacional numa Exposição Mundial com um edifício que não seja desenhado por um arquiteto português, mas está profundamente desagradada com a forma como os arquitetos portugueses foram tratados. É lamentável que, considerando o prestígio e reconhecimento dos arquitetos nacionais no panorama internacional, PORTUGAL se apresente com um edifício que não tenha a autoria ou, pelo menos, a coautoria portuguesa.

Muitos se interrogarão sobre as razões que levaram a que o arquiteto do PAVILHÃO de PORTUGAL na Exposição Mundial OSAKA 2025 seja japonês. A resposta é simples, porque Portugal assim o desejou, realizando um concurso com parâmetros que induziram a que isso acontecesse. O problema reside nos requisitos solicitados por Portugal neste CONCURSO DE CONCEPÇÃO CONSTRUÇÃO que coloca como coordenador e autor um arquiteto que tenha “mais de 6 anos de experiência como responsável técnico pela conceção e construção de edifícios no Japão, de características similares, iniciada e concluída nos últimos 10 anos”, acrescentando, e que essas obras possuam um valor de construção “superior a dois milhões de euros”. No restante, permite autores nacionais ou estrangeiros, mas apenas para desenvolver o projeto de execução.
Foi desta forma que Portugal, como membro do Bureau desde 1932, preparou a sua presença em Osaka, tornando este processo não só um modelo de conceção-construção como também dispondo as regras de forma que a escolha recaísse num arquiteto japonês. Aliás, só assim se entendem as afirmações dos responsáveis portugueses pela Exposição, que se congratulam porque um edifício desenhado por um arquiteto japonês atrairá muitos visitantes ao nosso pavilhão, uma vez que se estima que 80% do público da Exposição de Osaka venha a ser japonês.

Mas poderíamos eventualmente pensar que Portugal não seja caso único e que afinal os Pavilhões dos outros países, nomeadamente os europeus, também fossem desenhados por arquitetos que não são representantes dos respetivos países. Acontece que o autor do Pavilhão de Espanha é Nestor Montenegro, de Madrid; o autor do Pavilhão Italiano é Mario Cucinela, de Palermo; os coautores do Pavilhão de França são o estúdio CAAU - Coldefy & Associés, de Lille; os autores do Pavilhão Holandês são o estúdio RAU Architects, de Amesterdão; o autor do Pavilhão da Bélgica é Cyril Rousseaux, de Charleroi; o Pavilhão da Suíça é do grupo NUSSLI e da autoria de Manuel Herz, de Basileia; o Pavilhão dos EUA é do estúdio Trahan, de Nova Orleães; o Pavilhão da China é da autoria do estúdio CADG, de Beijing; e o Pavilhão do Brasil é da autoria de Marcio Kogan, de São Paulo.

Ressalvamos que a Ordem dos Arquitectos tem o maior respeito pela figura e pelo trabalho do arquiteto japonês Kengo Kuma, e acompanha o trabalho que esse arquiteto tem desenvolvido em Portugal, com parcerias nacionais de enorme qualidade (que, neste da Expo 2025, não existem), e em nenhum momento pretende questionar o conhecimento e a capacidade da sua equipa. No entanto, analisando o processo desta proposta de representação nacional e a formulação do concurso elaborada pelo comissariado português, não podemos deixar de lamentar profundamente o desiderato e denunciar a forma como os arquitetos portugueses foram tratados pelo seu próprio Estado.

 

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