29 abril 25 Norte
Arquitetura e Trabalho: Um 1.º de Maio para Pensar o Espaço Coletivo
O 1.º de Maio, Dia Internacional do Trabalhador, é um marco de resistência e solidariedade entre aqueles que constroem — com o seu trabalho — o mundo que habitamos. A arquitetura, enquanto arte e técnica de edificar esse mundo, tem um lugar privilegiado nesta reflexão: não apenas porque desenha os espaços onde se trabalha e se vive, mas porque também ela é atravessada por lutas, tensões e escolhas ideológicas.
Quinas vivas: memória descritiva de alguns episódios significativos do conflito entre fazer moderno e fazer nacional na arquitectura portuguesa dos anos 40
autor(a): José António Bandeirinha
editor: FAUP Publicações
Idioma: português
dimensão: 22x14,7 cm
sinopse:
“Memória descritiva de alguns episódios significativos do conflito entre fazer moderno e fazer nacional na arquitectura portuguesa dos anos 40”, contribuindo para o estudo do diálogo modernidade-identidade.
Este livro está disponível para compra na Livraria da OASRN.
Livro branco do SAAL : 1974-1976 vol. 1
autor(a): Serviço Ambulatório de Apoio Local - SAAL
editor: Conselho Nacional do SAAL | Publicado em 1976
Idioma: português
dimensão: 21 x 29,7 cm
sinopse:
Conselho Nacional do SAAL | Publicado em 1976
O Livro Branco do SAAL é uma publicação histórica e documental que reúne o trabalho desenvolvido pelo Serviço de Apoio Ambulatório Local (SAAL) entre 1974 e 1976, no rescaldo da Revolução de Abril. Criado pelo Estado português em plena efervescência democrática, o SAAL propunha uma nova forma de fazer arquitetura: participativa, coletiva e centrada nas necessidades reais das populações mais desfavorecidas.
Este volume apresenta, em mais de 470 páginas, os relatórios técnicos, mapas, plantas, fotografias e descrições das operações realizadas por brigadas de arquitectos em conjunto com moradores organizados em comissões de moradores. A obra cobre projetos em várias regiões do país (Norte, Centro, Lisboa e Sul), mostrando a diversidade territorial e social do processo.
Mais do que um registo técnico, este livro é um documento político e cultural, símbolo de um tempo em que a arquitetura se colocou ao serviço do povo e da transformação social. É também um testemunho das potencialidades e dificuldades da autogestão em habitação, numa experiência sem paralelo em Portugal.
Este livro está disponível para consulta na Biblioteca da OASRN.
Essa ligação entre arquitetura e trabalho é particularmente evidente quando revisitamos o contexto português do século XX. O livro “Quinas Vivas”, de José António Bandeirinha, mostra-nos como o Estado Novo procurou instrumentalizar a arquitetura como expressão da sua ideologia conservadora e autoritária, afastando-a da sua dimensão social e progressista. Ao promover uma estética nacionalista e centralizadora, o regime abafou as possibilidades de uma arquitetura verdadeiramente voltada para as necessidades do povo. O arquiteto deixava de ser agente social para se tornar decorador do poder.
Foi necessário esperar pelo 25 de Abril de 1974 para que se abrisse uma brecha. O Livro Branco do SAAL: 1974–1976 documenta esse momento raro e poderoso em que a arquitetura reencontrou o seu sentido coletivo. O SAAL — Serviço de Apoio Ambulatório Local — permitiu que arquitectos e moradores trabalhassem lado a lado, num esforço comum por habitação digna, construída com participação, solidariedade e justiça. Em vez de uma arquitetura de cima para baixo, construiu-se uma arquitetura de proximidade, democrática, militante. O espaço deixava de ser apenas forma: tornava-se território de luta e de dignidade.
É por isso que celebrar o 1.º de Maio a partir da arquitetura é também celebrar estes gestos — e estas histórias. É lembrar que a arquitetura tem responsabilidade nas condições de trabalho, nas formas de habitar, nos modos de estar em comunidade. É reconhecer que o trabalho dos arquitetos, tal como o de pedreiros, carpinteiros, canalizadores ou engenheiros, é um trabalho coletivo e, muitas vezes, precário — invisibilizado nas dinâmicas do mercado.
Hoje, num tempo de gentrificação e exclusão, revisitar Quinas Vivas e o Livro Branco do SAAL é também um ato de resistência. É recusar a ideia de que a arquitetura é um luxo, e reafirmar que o espaço é um direito. Porque o 1.º de Maio é, também, um apelo à memória ativa: para que nunca esqueçamos que a cidade deve servir quem a constrói e quem nela vive — com dignidade, justiça e liberdade.