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9 maio 24 Secção Regional LVT

Um livro escrito em pandemia, “uma narrativa de alto risco”

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“As Arquitecturas e a Cidade. Novos Paradigmas”, de João Sousa Morais, foi ontem, 9 de maio, lançado publicamente na sede da Ordem dos Arquitectos, numa organização conjunta entre a Secção Regional de Lisboa e Vale do Tejo e a editora Caleidoscópio.

Trata-se de um conjunto de reflexões com origem, essencialmente, no trabalho de professor universitário, que abrem para as questões do desenho, do urbanismo, do território, da contemporaneidade, e para o pensamento e para as perplexidades sobre as novas mutações citadinas e da vida das populações nos grandes aglomerados urbanos.

O livro foi editado em 2022 e escrito no tempo do confinamento. João Sousa Morais, professor catedrático na área de Projeto de Arquitetura da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa, utilizou o difícil tempo da pandemia para escrever sobre “os novos paradigmas” na cidade e da prática arquitetónica, nomeadamente na relação existente entre a arquitetura e a voracidade consumista das listas ordenadoras das melhores cidades, do melhor turismo e das melhores experiências, ‘rankings’ nos quais os arquitetos e arquitetas jogam por vezes, como referiu, um papel definidor secundário.

Também no que chamou “festialização” das cidades (iniciada no século XIX mas desenvolvida nas atuais cidades caracterizadas pelos ‘eventos’) por contraste, talvez, com “a arquitetura silenciosa”, que se instala na paisagem sem alarde e como se absorvesse nela e para ela.

Chamou às páginas agora lançadas frente a uma plateia de amigos, “uma narrativa de alto risco”. Por entrever a necessidade de passar a escrito as preocupações sentidas, e de querer partilhar um corpo de referências sobre a arquitetura da cidade, que sirva estudantes, colegas e interessados na vida social comum.

Para o fazer, João Sousa Morais foi, por exemplo, recuperar alguns pontos essenciais do movimento moderno, ou a relação da produção arquitetónica com as tecnologias digitais, partindo do princípio de que as transformações mais profundas da disciplina são formais.

Ancorando-se em Rafael Moneo e Ignasi de Solà-Morales, foi buscar as ideias de “fragmentação” como forma de percecionar o mundo (com origem em Piranesi, depois esquecida durante o modernismo, e recuperada agora) e “não-forma” (como se a arquitetura rejeitasse o seu compromisso existencial de dar forma aos aspetos da vida humana), plasmada na comunicação incessante, na informação global e na virtualização das imagens. A nova arquitetura a que Solà-Morales chamou “líquida” teria quebrado o princípio vitruviano da firmitas, para se dedicar aos anseios da mudança em vez da constância.

Muitos outros atores (arquitetos, artistas, escritores) são “chamados a depor” neste livro, para exemplificar formas de ocupação do território, formas de vida aceleradas pela velocidade, digitalização, perda da noção de tempo, consumo das marcas que se apresentam em todo o lado, ou que se reveem nas olheiras das sociedades cansadas de que fala o filósofo Byung-Chul Han.

O livro foi apresentado pelo arquiteto Jorge Boueri, professor da Universidade de São Paulo, que se dirigiu ao público como “colegas do ponto, da linha e do plano”. Boueri disse que o livro permite “conhecer a qualidade de pensador” de João Sousa Morais, na qual a figura da cidade (“a cidade é a moldura da arquitetura, a arquitetura é o conteúdo da cidade”) emerge com a necessidade de “pensar para lá do lote” e pensar com a Inteligência Artificial.

A sessão começou com a intervenção de Pedro Novo, presidente da Secção Regional Sul da Ordem, que relembrou “a dinâmica, valorizada e prosseguida pela Secção com a frequente apresentação pública de livros e com o convívio com os autores” e com o editor Jorge Ferreira, que disse continuar “entusiasmado por trabalhar na área da arquitetura e por partilhar com a Secção de Lisboa e Vale do Tejo esta dinâmica na área das publicações”.

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