Cerâmica
A palavra cerâmica advém do grego (keramiké) e significa “argila queimada”. Assim, todos os produtos cerâmicos são resultado de um processo de moldagem, secagem e cozedura (também denominada queima) a altas temperaturas. As possibilidades de manipulação da argila, quer por hidratação, por secagem natural ou por cozedura tornam-na numa matéria-prima incontornável na construção civil desde tempos remotos. Tradicionalmente, a argila, ou barro, era comumente extraída e transformada nos arredores das respetivas obras, evitando a necessidade de transporte. Atualmente, existem explorações de barro (barreiros) e fábricas de cerâmica (telheiros) por todo o país, embora em maior número nas regiões do Centro e em Lisboa e Vale do Tejo, e a argila é selecionada mediante as propriedades ideais para cada tipo de utilização.
A argila com origem mineral sedimentar, a partir da decomposição de rochas ricas em feldspato ou aluminossilicatos — filossilicatos, silicatos de alumínio hidratados — é a matéria-prima utilizada na produção de cerâmica que resulta da hidratação do dióxido de sílica [SiO2] e do óxido de alumínio [AI2O3]. Podemos considerar dois tipos de argila: a argila gorda, que apresenta grande plasticidade e é, por esse motivo, maioritariamente utilizada quer em peças de cerâmica utilitária quer em olaria, e a argila magra, que por ser menos plástica e conter maior percentagem de sílica é, principalmente, utilizada em cerâmica de construção e em elementos de alvenaria, como tijolos e abobadilhas, na integração em alvenarias mistas, ou ainda em revestimentos de paredes ou pavimentos.
As denominadas argilas comuns são, na verdade, uma mistura de argila, silte e areia; na sua composição podem ainda conter cálcio, magnésio, óxidos de ferro, potássio, titânio, sódio, matérias orgânicas, entre outros componentes, e é a variação das proporções de cada componente que dá origem aos diferentes tipos de argila, respetivas diferenças de cor e níveis de plasticidade. O espectro cromático possível varia entre argilas acastanhadas, arroxeadas, avermelhadas, cinza, esverdeadas, amareladas ou mesmo brancas. As argilas mais escuras têm alto teor em ferro e menor plasticidade e a argila branca, designada caulino, é a mais plástica com menor teor em ferro sendo, por esse facto, utilizada na produção de porcelanato.
A extração da argila é feita em depósitos naturais a céu aberto (barreiros) que existem em abundância ao longo da crosta terrestre, sobretudo na proximidade de zonas húmidas, normalmente em meses quentes. Depois de extraída, a argila fica a descansar ao ar livre, por um longo período de tempo, para garantir maior plasticidade e a homogeneização dos níveis de humidade. Após o descanso ao ar livre a argila passa por um processo de depuração e de moagem, tornando-a o mais fina e homogénea possível. Em seguida é adicionada água, em quantidades calculadas em função da pesagem da argila, e a mistura é amassada até se formar uma pasta (barro). Os níveis de humidade das pastas são calibrados e variam consoante as finalidades de utilização.
Os tempos de preparação de pastas cerâmicas — envelhecimento, peneiração, moagem, mistura e amassadura — faziam-se através de processos manuais ou mecanizados. Os vários ingredientes eram misturados e moídos até que estivessem completamente homogeneizados atingindo a granulometria ideal e resistência adequada, atendendo às características técnicas exigidas para cada produto específico — abobadilhas, grés extrudido, ladrilhos, mosaicos, telhas, tijolos maciços, perfurados e furados, tijoleiras, peças de terracota, etc. Atualmente, após a secagem natural ou mecânica, é feita a extrusão na produção cerâmica industrial, sobretudo em séries, para melhorar a qualidade da cerâmica e aumentar a produtividade. As fases finais de acabamento são a cozedura ou queima (em fornos a lenha, elétricos ou a gás) que melhora as propriedades mecânicas e a vitrificação que garante a impermeabilização.
Dada a variedade de utilizações dos materiais cerâmicos, existe também uma grande diversidade de formas de tratamento destes produtos. Dependendo da função, poderá ser necessário impermeabilizar, endurecer, proteger contra nódoas e sujidade ou ornamentar, existindo assim uma variedade de produtos naturais e sintéticos para esse efeito. No tratamento de telhas, por exemplo, poderá ser necessário aplicar um produto hidrofugante, que as impermeabilize embora permita a passagem de vapor de água. Em pavimentos de cozinhas, deverá optar-se por uma solução óleo-repelente que impeça que pingos de gordura fiquem impregnados nas peças cerâmicas. Por outro lado, o processo de vitrificação dos materiais cerâmicos permite reduzir a porosidade e as possibilidades de abrasão, tornando as suas superfícies hidrófugas. Tanto os materiais cerâmicos porosos como os não porosos podem ser vidrados. O vidrado resulta de uma solução aquosa com sílica e outros óxidos que deverá ter um coeficiente de dilatação inferior ao do material cerâmico de base para não provocar fendilhação.
As possibilidades de manipulação da argila, quer por hidratação, por secagem natural ou por cozedura tornam-na numa matéria-prima incontornável na construção civil desde tempos remotos.
A produção artesanal de peças cerâmicas faz uso de moldes, geralmente metálicos ou em madeira. A cada molde construído também de forma artesanal, vai corresponder um tipo de peça cerâmica, desde o tijolo burro à tijoleira, nos seus diversos formatos e espessuras.
O processo artesanal de produção de tijoleira pressupõe a moldagem manual de cada peça, atribuindo-lhe assim características únicas. Depois de moldada, é desenformada. Para tal, pode recorrer-se a duas técnicas: desenformar a água ou a areia.
As tijoleiras terão de secar completamente antes de serem cozidas. Depois de secas, as tijoleiras são individualmente aperfeiçoadas, retirando-se os excessos e corrigindo as imperfeições nos cantos e arestas.
As peças são colocadas e empilhadas num forno a lenha para serem cozidas. Depois de arrefecidas à temperatura ambiente estarão prontas para aplicar em obra.
A produção industrial de cerâmica obriga aos mesmos procedimentos da produção artesanal, recorrendo no entanto a maquinaria e instalações de grande escala.
A indústria de cerâmica tem como resultado uma produção em massa de peças uniformes.
A moldagem de tijolo furado é um processo industrial que consiste em fazer-se passar a mistura pastosa de argila pelos respetivos moldes.
Depois de assegurada a volumetria desejada, é utilizada uma guilhotina para seccionar e individualizar os tijolos.
Secagem dos tijolos antes da cozedura.