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12 dezembro 25 Açores

Nuno Costa participa no colóquio “O QUE FICA DO QUE PASSA – O Património Arquitetónico do Aeroporto de Santa Maria”

O Colóquio “O que fica do que passa – o Património Arquitetónico do Aeroporto de Santa Maria”, promovido pela Associação LPAZ, em colaboração com o Museu de Santa Maria, o Município de Vila do Porto e a Agência Espacial Portuguesa, decorreu na sede da Agência Espacial Portuguesa, nos dias 28 e 29 de novembro.

A iniciativa foi promovida no âmbito das comemorações do Acordo de Santa Maria, de 28 de novembro de 1944, e da Convenção de Chicago sobre a Aviação Civil Internacional, de 7 de dezembro de 1944, que a Associação LPAZ vem celebrando desde 2012. Estes dois acordos internacionais que impactaram decisivamente na construção da Base Aérea Americana de Santa Maria (1944-1946), na integração de Portugal na nova ordem mundial, e no papel que o Aeroporto Internacional de Santa Maria desempenhou na ponte aérea transatlântica, apoiando a aviação civil internacional e libertando os Açores das amarras do mar.

O evento reuniu especialistas nacionais e regionais numa mesa redonda dedicada ao tema “Património e Desenvolvimento”, para refletirem sobre o património arquitetónico dos Açores, com enfoque nas infraestruturas associadas à aviação e às comunicações no Atlântico Norte, em particular, sobre o Património Arquitetónico do Aeroporto de Santa Maria, que contou com a moderação de João Alves da Cunha e participação de José Manuel Fernandes, Nuno Ribeiro Lopes e Nuno Costa. Também foram realizadas visitas guiadas a edifícios requalificados, nomeadamente, ao Atlântida Cine, conduzida por Mariana Bettencourt Coelho, e à Incuba+, por Frederico Brix.

Nuno Costa, Presidente da Secção Regional dos Açores da Ordem dos Arquitectos, na sua comunicação, intitulada “Valorizar o património revigora a identidade”, destacou o impacto transformador que a chegada dos norte-americanos provocou na ilha de Santa Maria, nas suas diferentes dimensões: territoriais; económicas e socioculturais.

As nível das transformações territoriais, referiu que “a chegada dos norte-americanos impulsionou a transformação do Porto de Vila do Porto, com o alargamento da área do cais; melhoramentos nas vias de comunicação terreste e abertura de via rodoviária entre o porto e o aeródromo, a chamada Birmania Road (batizada assim para comemorar a vitória dos EUA sobre os Japoneses naquele país asiático); e a construção da base militar norte-americana, com três pistas, edifício da estação, exploração e torre de comando, sistema de abastecimento de água, sistema de esgotos - uma minicidade, com equipamentos sociais e bairros de habitação. O aglomerado urbano, planeado e construído para alojar os militares norte-americanos e, posteriormente, os civis portugueses que trabalhavam no aeroporto de Santa Maria e as suas famílias, possuía espaço de oração (igreja/culto), hospital, ginásio, piscina, hotel e o Atlântico Cine, com 800 lugares. Os bairros estavam estratificados pela categoria profissional dos funcionários e por empresas. Este aglomerado urbano com ruas largas, espaços arborizados, habitação distribuída por prefabricados de estrutura metálica tipo hangar, moradias unifamiliares ou moradias geminadas, adota uma linguagem arquitetónica que espelha, embora numa versão modesta, as linhas do urbanismo moderno e da arquitetura dos meados do século XX, impondo uma inovação no conceito urbano da ilha e do arquipélago. Os edifícios do designado ‘Lugar do Aeroporto’, em número de duzentos e dezasseis, foram agrupados em onze zonas residenciais (Bairro dos Anjos, Bairro da Bela Vista, Bairro de S. Pedro, Bairro de Santo Espírito, Bairro da Polícia de Segurança Pública, Bairro de Santa Bárbara, Bairro de São Lourenço,

Bairro de Almagreira, Bairro do Operário, Bairro dos Americanos e Bairro Infante D. Henrique) com características arquitetónicas e tipologias distintas, integrando também edifícios com funções de apoio logístico, oficinas gerais, supermercado ou cantina, padaria, e secção de transportes”.

Ao nível das mudanças económicas, referiu que “há todo um conjunto de serviços que floresce na sequência da vinda de tantos milhares de pessoas. Gerou postos de trabalho, com repercussões na economia da ilha e originou um êxodo interno na ilha. Muitos dos que trabalhavam no campo, na pecuária e na agricultura, mudam-se para o aeroporto e os campos começam a ficar por cultivar. O salário, três vezes maior do que o que ganhavam no campo à jorna, leva a que os poderes locais tenham de tomar medidas. As autoridades acabam por colocar um imposto sobre o vencimento dos que trabalhavam no aeroporto para compensar os que ficavam na agricultura, de forma a amenizar as desigualdades”.

As transformações socioculturais, frisou que “resultam do multiculturalismo e interculturalidade entre os marienses e, sobretudo, os norte-americanos. Após a passagem para aeroporto civil, muitas companhias usam para o reabastecimento de aeronaves ou descanso das tripulações. Surgiram espaços de lazer, convívio e de espetáculos, por onde passaram vários artistas e distintas personalidades”.

O Lugar do Aeroporto de Santa Maria, aglomerado urbano localizado na zona envolvente ao Aeroporto de Santa Maria e composto por onze zonas residenciais, com desenhos de Keil do Amaral, foi classificado como Imóvel de Interesse Público (Resolução do Conselho do Governo n.º 93/2017, de 10 de agosto).

Nuno Costa, Presidente da Secção Regional dos Açores da Ordem dos Arquitectos, na sua intervenção, congratulou a Associação LPAZ, na pessoa do seu presidente, António Monteiro, por promover esta importante iniciativa que visa valorizar o património açoriano, e reafirmou o seu compromisso com a valorização do património arquitetónico e histórico da ilha de Santa Maria, sublinhando a importância de reconhecer, proteger o património construído como elemento para o desenvolvimento sustentável, reforçando a identidade local.

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